Tem mulher que é melhor deixar quieta, não despertar. Dependendo do dia e das circunstâncias, essa opção pode fazer toda a diferença ou mesmo tornar-se uma questão de sobrevivência. Porém, as vezes a coisa foge ao nosso controle e aí...
Arregalou os olhos e enfurecida amaldiçoou aviões e companhias aéreas do mundo. Sobrou até para o pobre do Santos Dumont. De certo, ela nem pensou. Porém, se tivesse lembrado, nem mesmo os vôos espaciais e suas tripulações escapariam de sua ira. Desejou mesmo voltar aos tempos das cavernas e dormir, hibernar, em paz. Muitas coisas a irritavam na vida. Acordar cedo estava naquela lista. Ser acordada, a encabeçava.
A culpa era de João. Pensou no bom comércio local, nas boas escolas de seus futuros filhos e no fácil acesso aos meios de transportes. Na hora da compra, diante de sua amada esposa, destacou a segurança de se morar num condomínio fechado. Falou sobre as árvores que, ao redor, garantiam uma boa qualidade do ar. Pontuou a distância entre as casas, o que, teoricamente, lhes trariam silêncio, paz e privacidade. Tudo perfeito. Aquele corno, filho da puta – disse Malú, mais tarde – esqueceu-se, apenas, de olhar para o céu.
Enquanto pensava em aviões, Malú desconheceu aquele tom na pintura de seu quarto – Pêssego não é salmão, porra! – Pegou o telefone. A moça, do outro lado da linha, lhe garantiu que aquela havia sido a escolha de João. Na gaveta da cômoda, a nota fiscal deu razão à vendedora da loja, fato ignorado por Malú, já se ocupando de analisar a fatura do cartão de crédito de seu marido.
Ela insistia em saber, mas a atendente do Call Center, seu coordenador, supervisor e superintende falaram-lhe sobre sigilo e ética. Cagou. Mandou todos de volta para quem os pariu e buscou outros meios de decifrar o que significava aquela maldita sigla, JSB.
– Essa porra é motel, tenho certeza! Fi-lhô da puta! Mas eu capo, aquele corno-viado, eu capo. – garantia a moça, enfurecida.
Um site de buscas atribuiu a procedência da loja à Hong Kong. Califórnia também estava entre as opções. Porém, João tinha estado há pouco mais de um mês na Ásia. Malú já não tinha dúvidas:
– É isso! Aquele corno esteve num “puteiro” chinês. Filho de uma puta! Porra! É foda! Me trair, tudo bem. Mas como uma puta chiensa, numa porra de uma cabana de bambu é foda. Filho da puta! Eu mato esse filho da puta. Ele vai ver o que eu vou fazer com ele. Me traiu numa cabana de bambu... fi-lhô da puta. Ele vai ver o que eu vou fazer!
Andou de um lado a outro da casa, a pensar. Repetia a si mesma – Homem é tudo igual. Foda! Esses putos adoram um fetiche. Mulher diferente, oriental, ruiva, sei lá..eles amam. Foda! Malú era muito ligada em sinais. Azar da vendedora com traços asiáticos que bateu a sua porta. Ofereceu-lhe bebida à base de lactose. Sorte de Migo, o rottweiler da casa. Ele não pegou a moça, mas adorou a bebida.
Malú não gostava de dirigir. Aquele dia, abriu exceção. Percorreu o trajeto de 20 km até o escritório de seu marido em apenas 15 minutos. Um segurança reconheceu a moça ao volante do Corola prateado de João, seu preferido. Ofereceu-se para estacioná-lo. Ficou sem resposta e surpreso com a negativa de Malú. Virou as costas e preferiu não intervir quando viu a moça satisfeita e sorridente, arrastar o carro, propositalmente, na lateral do pelotis de sustentação do prédio.
Com classe, ajeitou os cabelos, retocou o batom e admirou-se diante do espelho. No 5º andar, uma última olhada antes de deixar o elevador. Após ser gentilmente cumprimentada pelo sócio de João, pensou na bondade de seu marido e chegou a decidir-se por recuar. Não fosse a imagem chamativa da secretária – num decote genetoro e...ruiva!!! – teria mesmo recuado.
Entrou triunfante pela ante-sala e dirigiu-se a provável “pegueti” de seu marido. Aqueles fios de fogo no telhado e o silicone avantajado, a incendiavam novamente. Por baixo do sobretudo que cobria seu corpo esguio, apenas uma calcinha de rendas em grená e preto, do tipo fio dental, e presa apenas por lacinhos de fios de seda. Gostou ao saber que a diretoria estava toda reunida. Sua única preocupação era mesmo a mesa de reuniões, longa e em vidro. Será que agüentaria o seu peso?
A secretária não imaginou que Malú fosse entrar. Nem mesmo quando a moça, sensualmente, dirigiu-se até a porta. Do lado de dentro da sala de reuniões, olhares libidinosos e um pobre João, acabado. Do lado de fora, Verônica, a ruiva siliconada, curtia os assobios e a música, saída do iPod de Malú, último mimo de seu marido, comprado especialmente para ela na JSB eletronics, de Hong Kong.
POR: HENRIQUE BISCARDI
Maravilhoso!
ResponderExcluirCoitado do João! A Malú é totalmente descontrolada rsrs
Parabéns, Biscardi!
Sensacional Henrique!!
ResponderExcluirParabéns!
Sucesso sempre!
Beijo.
Muito bom mas, tinha quer ser João?
ResponderExcluirNOOOOSSA.....COMO SEMPRE PRENDENDO A ATENÇÃO DO LEITOR ATÉ O DESFECHO......QUE POR SINAL, EU ADOREIIIIIIIIIIIIIIIII.........
ResponderExcluirSUCESSO É POUCO PERTO DO QUE EU DESEJO PRA VC.....
UM HOMEM ÍMPAR NA ARTE DOS CONTOS!!!!!!!
Muito bom. Cinematográfico.
ResponderExcluirCaramba, Henrique, quem segura a fúria dessa Malú?? Coitado do Joao, aquele filho da puta!!!!Diga-me algo, ela tem bigodes? Por que mulher com bigode nem o diabo pode, né??
ResponderExcluirkkkkkkkk
Adorei, querido!
Super beijo!!!
kkkkkkkkkkkkkkkk. Sensacional o seu comentário, Geyme. Mulher com bigode é bode. kkkkkkkkkk. Valeu, amore. bjs.
ResponderExcluirahaha adoro essa Malu, e o I-Pod no final foi o máximo, fico pensando se não faria o mesmo afinal sou MAJU, kkkkk
ResponderExcluir