Abriu os olhos e desejou enrolar-se ainda mais naqueles lençóis. O sol entrava num curto espaço entre o batente das janelas e a cortina. Era possível ver que ele brilhava, como os olhos de Thais que, naquele momento, desejava um delicioso café da manhã e um mimo de seu novo namorado. Pensou que seria bom um beijo de "bom dia" na testa e na bandeja, suco, iogurte, granolas, frutas e cereais.
Marcelo estava em frente ao espelho. Tirou a camisa e com a calça de pijamas parecendo uma roupa ninja ameaçou alguns passou de Tai chi. No início, Thais até achou alguma graça. O rapaz, porém, empolgou-se e começou a ver músculos onde os mesmos não existiam. Passou as mãos sobre os cabelos e tentou inflar o peitoral. A pior parte foi fazer simulações, em frente ao espelho, de sua performance na noite anterior. Isso sim, deixou Thais perplexa e indignada:
- Mais o que é isso?
- Isso, o que?
- Essa coisa ridícula.
- Ridícula hoje, né? Ontem à noite você bem que gostou.
Thais sabia dos riscos de pegar qualquer um, em qualquer lugar. Suas amigas também já a haviam alertado – Tai, hoje 90 % dos homens são babacas. Pouco mais de 9 % são legais, mas já estão casados ou comprometidos. Nos sobra então, menos de 1% amiga!! isso é quase nada!!! Cuidado, amiga! E nada de levar homem para casa, hein !
Esse último conselho a menina ouviu. Foi para a casa do rapaz. A questão agora era, como sair de lá:
- Eu estou falando disso aqui, dentro de seu armário. Que porra é essa, Marcelo?
- É a camisa do Washington, meu amor. Eu já havia lhe falado sobre ela.
- Quem é Washington?
- Washington, meu anjo. Aquele atacante do Fluminense. Aquele, lembra-se? O cara teve um problemão no coração, ficou um tempo parado e depois, deu a volta por cima, foi campeão...lembra-se?
- Não.
- Washington, amor. Aquele que jogava no Fluminense!
- Porra! Marcelo, tu não é rubro-negro? Que camisa é essa do Fluminense dentro de seu armário?
- Qual o problema?
- Qual o problema? qual o problema?
Thais pegou a camisa e cheirou
- Porra!!! Está fedendo para cacete essa porra! Bem que eu estava sentindo esse cheiro desde ontem.
- Claro! É a camisa do jogo! Ele me deu de recordação. Ele é meu parceiro. Tirou do próprio corpo e me deu .
- E vc acha isso legal, Marcelo. Que porra de homem você é que guarda a camisa de outro marmanjo no armário sem lavar, Marcelo. Você quer o que? Quer ficar sentindo o cheirinho dele? E essa porra que você estava fazendo em frente ao espelho, Marcelo? Que coisa ridícula era aquela? Você é gay, Marcelo? Você é gay?
Thais sabia que gay Marcelo não era, mas aquele malabarismo em frente ao armário extinguiu a chance daquela relação ir adiante. Para Thais, Marcelo não era gay, era ridículo e isso era muito pior. Se tem uma coisa que Thais jamais suportou foi homem ridículo.
O clima entre os dois ficou pesado. Marcelo olhava fixamente para o teto, tentando entender o que se passava na cabeça de Thais. A moça vestiu-se rapidamente, pegou a mochila e disse adeus. No hall de entrada do prédio, Thais parou e refletiu:
- Putz! A camisa do Washington...autografada! perdi.
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