quinta-feira, 14 de abril de 2011

NOSSSSSSSSSSSSSSSSSSA!!!!

Parecia absurdo, mas lá estava aquele homem de meia idade, sentado ao canto do salão, reconstado na parede. Cabeça vagando, olhos girando, cara de bobo. Quiseram expulsá-lo da reunião. Ele e seu riso sarcástico, no canto da boca, debochado. Paula intercedeu por ele e seu esposo, Dr. Alberto, lhe deu apoio. João, a muito custo, concordou. Posicionou-se ao lado do meliante, porém, num olhar extremamente ameaçador. 

Conheço bem o sujeito – dizia o português com o olhar espichado. Fica na portaria o dia inteiro, babando na mulher dos outros, até o dia em que acordar com a boca cheia de formiga. Eu vejo como ele olha para cada esposa que adentra aqui o recinto – explicou para a Dr. Alberto que lhe continha.

Ao longe, Zezinho confidente e amigo, apenas observava a reunião que prometia ser uma das melhores. Logo, a ninfa do 504 apareceu. Vestido de tecido, fino e estampado. Borda acima do joelho, mamilos aparecendo. Costas nuas e bronzeadas. Calcinha mínima, enfiada. Mas não era vulgar, defendia Laerte. Zezinho balançava a cabeça e dizia: Nosssssssssssssa!


Dona Clotilde fez sinal com a mão e seu Aurélio calou-se. Também, com aquele tamanhão! Durante o dia, rolo de macarrão à mão. À noite, coleira e chicote. O pobre homem devia de sofrer. Um dia, bateu a porta de seu Laerte e lhe mostrou uma guimba de cigarros. Laerte pensou naquilo por noites, enquanto Zezinho apenas dizia: Nosssssssssssssa!

Laerte desejava mesmo Eulália. Que mulher! Criou três filhos, sozinha, no laço. Seis da manhã, já de pé.  Pickup na rua. Filhos de unifrome, squeeze e malha apertada de academia. Voltava por volta das sete. Meia-hora passava e, que transformação! Tailler na cor rosa, escuro. Pastinha no braço, cabelos devidamente presos e decotes charmosos e comportados. À noite, dava aulas de ginástica no salão do prédio, e comandava, aos berros, seus alunos. Seu Laerte nunca gostou de fazer exercícios, mas com Eulária, como dizia Zezinho, nosssssssssa!    

Mariza era do tipo recatada e Laerte adorava mulher “fiel”. Teve um flerte com uma amiga do trabalho. Vinte anos de casada, manhãs de domingo na igreja, almoço na sogra. Levava e buscava os filhos no colégio e quando um deles tinha febre, faltava. A melhor transa de sua vida – disse ele para Zezinho,  nosssssssssssssa!

O apartamento 203 foi ocupado recentemente por Odete. Mulata “tipo exportação” comentou com Zezinho. Descia todos os dias, duas da manhã para vê-la chegar. Sapatos plataforma, dourados, brilhantes. Calças em sarja, cumpridas e suadas. Pele brilhante e um sorriso daqueles bem feliz, de verdade – Imagina essa mulher bêbada, Zezinho! Nosssssssssa!

A coisa esquentou no salão, dona Marlene estava exaltada e a ninfa do 504 jogava as pernas de um lado para o outro. Ouviu Sr. Glauco do 302, com os olhos raivosos, lhe indagar alguma coisa que ousou não perguntar. Balançou a cabeça, franziu a testa e concordou. Concordou com tudo, até ver Marília. A moça era simpática, atenciosa e tinha uma voz de quem parece estar incessantemente tendo orgasmos. Sorria com os olhos e com os lábios carnudos. Certa vez beijou o rosto de seu Laerte na frente de Zezinho que levantou os olhos, virou o rosto e resmungou: Nossssssssssssssa!

A noite caindo, reunião próxima do fim. Um João, furioso, partia para cima de Laerte, enquanto este tombava a cabeça para trás, fazendo ploc, ao colidir com o chão. Dr. Álvaro acudiu o moribundo. Na palma de sua mão esquerda uma foto. No fundo da foto um espelho onde surgia Paula, cerrando os olhos de prazer enquanto João, acima, posudo e vermelho, sorria.  Ao ver sua esposa, Dr. Álvaro se enraivou e lá foi de novo a cabeça de Laerte rumo ao chão.  O pobre médico , descobrindo-se corno, levantou-se rapidamente e saiu apressado a procura de João. Ninguém soube dizer o que houve depois. Na portaria, apenas Zezinho refletia: nosssssssssssssssa! 

Por: Henrique Biscardi

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