quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A MÃO PELO CORRIMÃO DE THAIS


Talvez fosse o vento que lhe incomodasse. Talvez. Pegou a garrafa de vinho e desistiu. Pensou em...“onde estaria o abridor?”. Desistiu.  Também não queria guardar a garrafa e a deixou ali, ao lado do CD, abandonado na ponta da estante onde se apoiou. Apoiou-se para chorar, mas vontade já não tinha. Corria a mão pelo corrimão -  mão pelo corrimão - achou graça. Achou graça e chorou.

Foi naquele corrimão recém pintado que rolou o primeiro beijo. Ele queria subir, ela travou. Segurou forte em seu tórax. Alexandre a pegou pela cintura. Mãos na nuca da moça. Na boca, um sorriso para o qual Thais ainda não tinha um antídoto. Esmoreceu em seus braços.

Carregada foi pela escada acima. Sentiu-se repousar em nuvens de algodão enquanto seu corpo se despia. Os olhos cerrados, coração leve. Levitou. Agarrou os lençóis com extrema força. Urrou.

Quando recobrou os sentidos, ele estava ali. Mas Thais leu de outra forma seu sorriso. O rapaz estava feliz. Feliz por fazê-la feliz. Ela lhe fez indagações sobre as quais ele não compreendia. Quis saber sobre os motivos, como se houvesse algo além da paixão que o consumia -  Desejo? Sim, desejo. Mas que mal há nisso? Sou desejo, sou tua pele, Sou todo o teu corpo, me vejo em teu olhar!. Ela não compreendia – Quem é que você pensa enganar? Você não me ama, apenas me deseja. Como assim -  insistia - Eu te amo!  

Aquele olhar simples e direto não lhe convencia. Enrolou-se em lençois-armaduras e entrou asperamente em sua suíte. Saiu vestida e transformada. Passou por ele como se nada fosse. Alexandre ficou pensativo por alguns minutos. Pensou que talvez ela voltasse e Thais voltou. Voltou indignada por qualquer motivo alheio. Disse-lhe que queria arrumar a cama. Gostava da casa em ordem, antes de sair e de saída já estava.

O rapaz se foi. Andou quilômetros pelas calçadas vizinhas, sem qualquer direção. Entrou num bar, sentou-se num banco, colado ao balcão. Um atendente lhe interpelou. Olhou para aquele homem de avental branco e para o ambiente a sua volta. Levantou-se e se foi.

As primeiras semanas foram tristeza, incredulidade e saudade. Pensava naqueles olhos grandes e amendoados. Pensava naquela voz macia, nos braços longos que se alongavam em seu corpo. Na quentura dos lábios dela e no gosto da pele. Pensou em ligar. Pensou em ir lá. Pensou. Passou.

Sim, passou. O tempo passou e ele já não pensava. Não pensava, muito. Volta e meia, seu coração batia descompensado. Sua mente enchia-se de lembranças e lágrimas. Olhava o celular em busca de uma ligação perdida, uma mensagem. Seu coração transbordava carinho, amor e saudade. Sim. Ele ainda chorava por ela.

Suas lágrimas, no entanto, secaram. As lembranças daqueles olhos grandes, amendoados e indiferentes lhe assombravam. Não compreendia como alguém pode que lhe despertar tantos sentimentos bons e ao mesmo tempo lhe causar tanta dor.

Assim era o amor, pensou. O amor não correspondido. Na última quarta-feira, ao olhar a chuva marcar pingos grossos em suas janelas, Alexandre conseguiu enxergar o rosto de Thais.  Há alguns quilômetros de distância, sentada no último degrau da escada, cabeça apoiada ao corrimão, olhos grandes e  amendoados curtiam a segurança que a solidão lhe proporcionava. Passou a  mão pelo corrimão - mão pelo corrimão - e pensou nas mãos de Alexandre, passeando pelos seus quadris.

Por: Henrique Biscardi

4 comentários:

  1. Amigo, sei não... será que amor é saudade? Porque será que preferimos a ausência/ideal à presença/real? Será nossa incapacidade de conviver com o Outro devido ao excesso de idealização do desejo?

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  2. Bacana o seu comentário, Laurindo. Você captou a essencia desse conto. Acho que esse é um dilema de nosso tempo. Obrigado pelo carinho. Abraço!

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  3. Tanta gente tem tanto medo da solidão, mas a ausência pode trazer segurança, é verdade. Que as pessoas aprendam a viver com a insegurança da presença, então! Isso sim é viver!
    Que bom ter um texto novo, Henrique!

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  4. Obrigado pelo carinho Ana. Espero que tenha gostado e continue curtindo porque vem mais Thais por aí. Bjs.

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