quinta-feira, 27 de outubro de 2011

THAIS E ADALBERTO

Levantou-se e foi até a geladeira. Ficou parada ali, diante do nada, estática. Pegou uma fruta qualquer e dirigiu-se ao sofá, onde suas roupas estavam espalhadas. Sentou-se com as pernas cruzadas e revirou as unhas de um dos pés. Passou as mãos sobre os cabelos e sentiu-se inquieta. Levantou-se.  

Caminhou de uma ponta a outra da sala, mordendo a maça e os lábios inferiores. Foi até as janelas e as abriu. Sentiu um vento arrepiar-lhe o corpo.  Thais Fechou os olhos e deixou suas mãos lhe abraçarem. Partindo do quadril, sentiu a ponta de seus dedos em cada parte de seu corpo.  Balançou a cabeça de um lado para o outro. Suas mãos alcançaram o bico de seus seios e os contorceu, saltando um grito de alívio e prazer. Distante de qualquer coisa que lhe fizesse sentido, entregou-se ao fogo que aquecia a sua alma, deixando que a chama lhe consumisse até o último suspiro. 

Quando seus olhos se abriram, pode ver, pela fresta da porta do quarto, que Adalberto permanecia alienado de seus desejos. Seu corpo ainda tremia e foi difícil sair daquela posição fetal que tanto lhe agradava. Seu rosto, ainda ruborizado, e os olhos, esbugalhados, buscavam alguma compreensão pelo acontecido. Olhou a lua que lhe sorria, debochada, com se algum mérito tivesse naquilo. Não tinha.

A culpa era de Adalberto – pensou –  Tão bonzinho. Adalberto não existe, porra! Não existe!

Pegou o telefone. No outro lado da linha,  Luiza.

- Vou terminar com ele
- Como assim, está louca? Você acaba de ficar noiva.
- Eu sei , Lú. Mas é foda. O cara é perfeito. Ele não existe, cara.
- Calma, Thais. Calma. Respira, respira. Onde você está?
- Na casa dele, porra!
- E cadê ele?
- Dormindo, Coitado. Nem me viu gozar.
- Como assim?
- Nada, nada. Eu vou embora, vou deixá-lo.
- Calma, Thais, porra! Você vai enlouquecer o cara. Não faz isso.
- Eu preciso.
-Porra!!!  Tá maluca? Você me disse ontem que o amava! Disse que ele era um sonho. Cadê o cara educado, gentil, sincero que tanto você curtia, hein? Ele te ama porra!  o sexo entre vocês não é  maravilhoso? Que porra é essa de terminar agora, Thais?
- Eu sei Lú, mas há algo errado nele. Tem que haver? Homem assim existe? Diz para mim, quantos homens iguais ao Adalberto você conhece? Porra! Há algo de podre no reino da Dinamarca, entende? Alguma coisa está errada, cacete. Ele está escondendo alguma coisa. Ele é bom demais para ser verdade!
- Hum. Sei lá. Olhando por esse lado...Ah! desencana, amiga. Acho que você está é com medo de ser feliz.
- Porra nenhuma. Tem alguma coisa errada. Ele está me enganando, está me escondendo alguma coisa. Vou terminar. Pronto. Vou terminar. Acabou.

A moça aproximou-se do rapaz que, aos poucos, foi despertando. Olhou aqueles olhos grandes e castanhos e não a reconheceu. Estanhou a cara séria, fechada. A testa estava franzina e ele pressentiu que a moça tinha algo sério a lhe dizer. Colocou as mãos delicadamente no rosto de Thais e quis saber se algo havia lhe acontecido:

- Não, Adalberto. Ninguém ligou, eu não saí de casa e nem lembrei-me de nada que tenha acontecido e não quis lhe contar antes  para não estragar a nossa noite. O problema é que você é muito bonzinho, cara.  Eu preciso de um homem que me sacuda, que me engane, que me sacaneie, que me deixe insegura. Você está sempre tão preocupado comigo, sempre tão atencioso... deixa eu me ferrar um pouco na vida também. Eu preciso disso. Você me protege demais e isso me sufoca. Eu hoje me dei prazer e foi maravilhoso. Lembra outro dia que você me pegou me tocando?  Eu esperava que você fosse curtir, sentar ali e me ver me dando prazer e não rolou. Você foi embora e depois ficou cheio de grilos me perguntando se você não me dava prazer suficiente. Claro que dá. Você me dá muita coisa e não apenas prazer. Porém, Adalberto, minha vida, meu prazer , meu tudo não pode ser só você e você não me tem dado espaço para mim! 

Adalberto achou que talvez estivesse dormindo. ficou ali, parado, com cara de dois de paus. Nem quando Thais saiu pela porta, o rapaz se deu por convencido. Fechou os olhos e pensou em voltar a dormir.  Quando suas mãos acharam os lençõis vazios ao seu lado, ele finalmente despertou. Sentou-se à cama, colocou o rosto entre as mãos e se perguntou pela razão daquilo tudo.

Decidiu que a moça era doida e não merecia o seu lamento. Jurou tirar Thais de seu pensamento e achou mesmo que jamais veria Thais outra vez em sua vida. Talvez ele tivesse razão. Talvez. 


Por Henrique Biscardi

5 comentários:

  1. Por favor, passa o meu telefone pro Adalberto!...rs

    Muito lindo, Henrique. Conheço pouco de você, mas estou surpresa. Você escreve muito bem. Beijos!

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  2. Ui........mais uma doida vem por aí!
    Quantas delas devem existir por esse mundo afora....Na dúvida cruel quanto ao fato de estarem sendo amadas ou somente desejadas? Fugindo de fatos reais e optando por uma vida de dúvidas e solidão?
    Querendo, desejando, uma vida que não terão nunca a certeza que vão ter, e por isso não se entregando?

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  3. O problema da Thais foi que não esperou o casamento para descobrir os defeitos do Adalberto. Pulou fora antes.
    Se tivesse esperado...

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  4. Márcia Lima de Souza3 de novembro de 2011 às 21:39

    A intempestividade dos protagonistas ou coadjuvantes é tamanha que apenas sinto muita poesia no ar ...sensibilidade à flor da pele.
    A forma escrita muito impressa e forte encontra e provoca encantos e desencantos, a poesia nos provoca e instiga. Idealizações projeções, isso é arte e poesia até onde vai a minha pouca experiência ou apenas uma vã filosofia ...
    Parabéns, querido Henrique!!!
    Belíssima forma escrita com um texto denso intenso e simples como a poesia e a arte devem acontecer!

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  5. Textos muito bem elaborados, encantada! Parabéns! Coloquei-me seguidora. Um grande abraço!Feliz dia!

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