quinta-feira, 3 de novembro de 2011

THAIS E A CAMISA AUTOGRAFADA DO WASHINGTON

Abriu os olhos e desejou enrolar-se ainda mais naqueles lençóis. O sol entrava num curto espaço entre o batente das janelas e a cortina. Era possível ver que ele brilhava, como os olhos de Thais que, naquele momento, desejava um delicioso café da manhã e um mimo de seu novo namorado. Pensou que seria bom um beijo de "bom dia" na testa e na bandeja, suco, iogurte, granolas, frutas e cereais.

Marcelo estava em frente ao espelho. Tirou a camisa e com a calça de pijamas parecendo uma roupa ninja ameaçou alguns passou de Tai chi. No início, Thais até achou alguma graça. O rapaz, porém, empolgou-se e começou a ver músculos onde os mesmos não existiam. Passou as mãos sobre os cabelos e tentou inflar o peitoral. A pior parte foi fazer simulações, em frente ao espelho, de sua performance na noite anterior. Isso sim, deixou Thais perplexa e indignada:

- Mais o que é isso?

- Isso, o que?

- Essa coisa ridícula.

- Ridícula hoje, né? Ontem à noite você bem que gostou.

Thais sabia dos riscos de pegar qualquer um, em qualquer lugar. Suas amigas também já a haviam alertado – Tai, hoje 90 % dos homens são babacas. Pouco mais de 9 % são legais, mas já estão casados ou comprometidos. Nos sobra então, menos de 1% amiga!! isso é quase nada!!! Cuidado, amiga! E nada de levar homem para casa, hein !

Esse último conselho a menina ouviu. Foi para a casa do rapaz. A questão agora era, como sair de lá:

- Eu estou falando disso aqui, dentro de seu armário. Que porra  é essa, Marcelo?

- É a camisa do Washington, meu amor. Eu já havia lhe falado sobre ela.

- Quem é Washington?

- Washington, meu anjo. Aquele atacante do Fluminense. Aquele, lembra-se? O cara teve um problemão no coração, ficou um tempo parado e depois, deu a volta por cima, foi campeão...lembra-se?

 - Não.

- Washington, amor. Aquele que jogava no Fluminense!

- Porra! Marcelo, tu não é rubro-negro? Que camisa é essa do Fluminense dentro de seu armário?
- Qual o problema?

- Qual o problema? qual o problema?

Thais pegou a camisa e cheirou

- Porra!!! Está fedendo para cacete essa porra! Bem que eu estava sentindo esse cheiro desde ontem.

- Claro! É a camisa do jogo! Ele me deu de recordação. Ele é meu parceiro. Tirou do próprio corpo e me deu .

- E vc acha isso legal, Marcelo. Que porra de  homem você é que guarda a camisa de outro marmanjo no armário sem lavar, Marcelo. Você quer o que? Quer ficar sentindo o cheirinho dele?  E essa porra que você estava fazendo em frente ao espelho, Marcelo? Que coisa ridícula era aquela?  Você é gay, Marcelo? Você é gay? 

Thais sabia que gay Marcelo não era,  mas aquele malabarismo em frente ao armário extinguiu a chance daquela relação ir adiante. Para Thais, Marcelo não era gay, era ridículo e isso era muito pior. Se tem uma coisa que Thais jamais suportou foi homem ridículo.

O clima entre os dois ficou pesado. Marcelo olhava fixamente para o teto, tentando entender o que se passava na cabeça de Thais. A moça vestiu-se rapidamente, pegou a mochila e disse adeus.  No hall de entrada do prédio, Thais parou e refletiu:

- Putz! A camisa do Washington...autografada! perdi. 


Por: Henrique Biscardi

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